Por Roseli M. Kühnrich de Oliveira*
Quero falar sobre uma mulher cuja história se encontra na Bíblia e remonta a centenas de anos atrás! Apesar disso, é uma história muito atual!
O nome desta mulher era Hagar, e ela era escrava de outra mulher, chamada Sara, que era esposa de Abrão, um dos patriarcas da Bíblia. Pra conhecer um pouco mais sobre esta mulher, você pode ler alguns capítulos do livro do Genesis, especialmente os 16 e 21.
Para entender parte dos acontecimentos, onde a personagem Hagar aparece, precisamos nos deter no momento histórico vivenciado por Abrão e sua esposa Sara, que padecia de um mal, o mais terrível de todos naquela época: ela era estéril, ou seja, não podia ter filhos.
A mulher estéril na cultura do Antigo Israel era considerada uma desventurada socialmente e uma vítima do desagrado de Deus.
Deus havia prometido um filho eles. Contudo, 10 anos se passam e nada aconteceu…e como é difícil esperar!
Nossa tendência é apressar as coisas e Sara, vendo a menopausa chegar, a pele se enrugar, o cabelo embranquecer, decidiu agir por ela mesma. Havia um costume no oriente antigo de dar fazer procriar as servas para dar descendencia aos seus amos.
Este filho tão esperado acabou por ser motivo de disputa pelo poder entre as duas mulheres. Sara agiu com violência contra Hagar e ela fugiu para o deserto. Lá, ela andou sem rumo e quando pensava que iria morrer, sozinha e sem agua, ele percebeu que estava pertinho de uma nascente de agua.
Mesmo no deserto existem pequenas fontes de água. É justamente junto de um olho d´áagua que o Senhor enviou seu mensageiro, um anjo, para interpelar Hagar.
E lhe perguntou: - Hagar, serva de Sara, de onde vens e para onde vais?
Hagar foi corajosa e respondeu a verdade: - fugi!!
Este anjo não lhe diz, Mulher, Ele a chamou pelo nome!
Neste diálogo, percebemos que Deus é um Deus que encontra uma mulher aflita no seu caminho, ele providencia um encontro e promove o diálogo e a escuta.
A Bíblia diz que Hagar deu um nome a este poço, este lugar onde o Anjo conversou com ela, e este nome significa: O Deus que me vê!
Ou seja, não apenas o Deus que vê, mas o Deus que ME vê!! Nesta epifania, Deus se manifesta a uma escrava, uma mulher, uma estrangeira, uma “não do povo”, uma “não escolhida”.
Ali, no meio do deserto, Deus lhe faz uma linda promessa de vida, e lhe diz:
Eu te ouvi! Você está gerando um menino! Teu filho será um valente, e terá uma grande descendência e seu nome deverá ser ISMAEL, que significa El ouvirá, ou Él escuta!
A escrava Hagar nos relembra a situação de tantas mulheres neste mundo e no Brasil também, que estando grávidas perdem o emprego, são abandonadas pelo companheiro, e expulsas de casa passam por muita humilhação e miséria e são às vezes rejeitadas até por suas famílias.
O nosso Deus é um Deus que escuta pessoas excluídas, que estão desesperadas e sem rumo. Ele nos alcança no caminho da dor e nos socorre, mostrando uma saída, uma fonte de subsistência. A Bíblia diz que o Anjo do Senhor encontrou Hagar junto a uma fonte no deserto. Nosso Deus é um Deus que vai ao encontro dos que estão no deserto da vida. Ele nos conhece, nos chama pelo nome e cuida de nós. Ele pode usar anjos para isso e pode requisitar qualquer um que se disponha a ajudar e estender a mão.
Muitas mulheres ainda vivem em condições de exclusão, humilhação, exploração e violência, mesmo em países do chamado primeiro mundo. A Igreja pode ser também este Anjo que se aproxima e traz boas novas, outras perspectivas e possibilidades. A missão integral da Igreja vai além do anúncio da salvação em Cristo, básico, é verdade. A atuação da Igreja no mundo, sendo sal e sendo luz pode produzir conscientização e mudanças efetivas na vida de mulheres e homens e suas descendências, através do ensino, do aconselhamento e do consolo.
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* Roseli
M. Kühnrich de Oliveira é preletora convidada para a IV Tarde da Amiga.
Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP) de São Paulo, Especialista em Terapia Familiar e com Mestrado em Teologia pela Escola Superior de Teologia (EST), no Rio Grande do Sul.
Vice-presidente do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC Sul), e membro da Associação de Assessoramento e Pastoral da Família (EIRENE).
Autora do livro "Cuidando de quem Cuida: um olhar de Cuidados aos que ministram a Palavra de Deus", Editora Sinodal e co-autora em De Bençãos e Traições, a história das famílias de Abraão, Isaque e Jacó, Ed. Ultimato/ Esperança.